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segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

IR OU NÃO IR, EIS A QUESTÃO


Era final da década de 70, perto das 21 horas, numa sexta-feira, eu com 16 anos estava em casa debruçado sobre os livros e textos escolares porque iria fazer provas de vestibular. Gostava de estudar na sala da minha casa sentado à mesa ouvindo música num velho aparelho produzido aqui mesmo na Zona Franca de Manaus. Como sempre fazia, mamãe passava, me olhava, sorria e ia à cozinha, logo em seguida, voltava com um copo de leite e biscoitos, avisando para eu não ir dormir muito tarde.
Eu tinha acabado de ler um texto e fazer as devidas marcações e anotações quando um carro – uma Brasília vinho – chegou buzinando em frente de casa. Era o meu amigo Carlos Itanajé*, também jovem e tido pelas garotas como um galã. Itanajé, sorrindo, perguntou o que eu estava fazendo. Estou estudando, respondi. E o meu amigo exclamou: - Pô, João, toda vez que eu venho aqui você ta estudando, qual é?! Deixa de ser CDF, seu “nerd”!!! Vamos dar um rolé e pegar umas garotas.
A rua da minha casa, a Visconde de Porto Alegre, no centro da cidade, antigamente tinha mão dupla, hoje só tem mão no sentido de descida em direção a Avenida Sete de Setembro que vem do “centrão”, parte boêmia do centro da cidade, e vai na direção do bairro da Cachoeirinha. Itanajé, ao contrário, estava subindo a Visconde em direção à rua Ramos Ferreira que tem como sentido o “centrão”.
- Meu amigo, gostaria muito de ir nessa “barca”, mas estou estudando desde cedo, já estou quase indo dormir, deixa pra próxima. - Disse-lhe eu.
- Tu és muito leso, meu camarada. Olha que hoje é tudo por minha conta. Vamos nessa, João. - Insistiu, Itanajé.
Não, não fui. Itanajé foi embora “cantando pneu”, e eu voltei para os meus estudos. Três horas da madruga fui dormir.
Acordei por volta das 9 horas, tomei meu café, e saí à rua para encontrar meus camaradas. Foi quando fiquei sabendo da notícia trágica. O meu amigo Carlos Itanajé, por volta das 21:30 da noite, depois que passou em minha casa, capotou com a Brasília na rua Ramos Ferreira, na descida da ladeira conhecida como “buraco do pinto”, e morreu.
Este fato marcou a minha vida de três maneiras: A primeira é a paranóia que fico quando alguém vem buscar os meus filhos para sair. A segunda é a dúvida de que se eu estivesse junto com ele no carro como co-piloto orientando-o, sendo a voz da moderação para que ele não corresse muito, o acidente poderia não ter ocorrido. E, a terceira é de cunho moral: Quando você tem um objetivo, uma meta a ser alcançada, não desvie, em hipótese alguma, do seu caminho. Não seja um(a) “Maria/José vai com as(os) outras(os)”.

*Itanajé, do tupi: Ita, pedra; Najé, mágica. “Pedra Mágica”

De João Pinheiro Neto.




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