A esposa de João vivia elogiando o marido para os amigos,
para os próximos, para todos. Foi por intermédio de João que ela conseguiu
aprender a amar, foi por causa de João que ela soube amadurecer e ter paz, foi
por meio dele que alcançou o por meio dela, foi por ter caminhado com João que
ela compreendeu a caminhada e, assim, chegou aonde sempre sonhou – ainda que
não soubesse disso antes. De muitas coisas ela não tinha a menor ideia, nenhuma
ideia, antes João. João se tornou o caminho, a estrada, a ponte para o que ela
atingiria caso se desenvolvesse conforme suas premissas internas. Isso
aconteceu.
Então ela chamou seu João e disse a ele que o casamento
chegara ao final. Agora ela estava bem, estava Ela, estava em uma condição
existencial na qual era agradecida a João, reconhecida a João; muito de
novidades, muito de alegrias e sexualidade, amor, agora muito cabia e acenava
com cabimento em sua vida. Mas não havia mais lugar para João. Ele tinha sido
uma boa estrada, um bom caminho para isso. Mas a estrada é uma trajetória para
algo, não o algo. A não ser que a estrada seja o próprio algo. Foi caminhando
com João que ela aprendeu e descobriu a amar, e assim amou o amigo de João, com
quem agora queria estar, a mulher pós-caminho com João.
Será que João se afastará, agradecido por ter sido caminho
para ela? Será que compreenderá e lhe agradecerá por ter partilhado um trecho
da vida, por ser uma passagem para ela enfim chegar ao amigo dele?
Será que João sabe que outras pessoas são João para ele como
ele foi João para a esposa?
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