Estavam os três jovens no meio da ponte de madeira sobre o
igarapé poluído entre as palafitas, Gel, Cláudio e Joab. O fedor de água podre
parecia vir do inferno. A noite sem luar tornava o lugar com pouca iluminação
ainda mais escuro. Conversavam baixinho, já passava das 22 h e eles não queriam
acordar ninguém, pois iriam fumar o primeiro “baseado” de suas vidas. Quando
Cláudio se preparava para acender o “bagulho”, eis que surge atravessando a
ponte uma figura macabra vestida de preto que parecia estar descalço. Cláudio,
por via das dúvidas, escondeu o “baseado” na mão para acender depois que a
figura passasse. Mas, o inesperado aconteceu. Quando o sujeito de preto chegou
ao meio da ponte onde se encontravam os três, ela caiu; e todos foram parar
dentro do igarapé de água podre. Incrível! Como um gato a figura de preto subiu
pelo que restou da ponte e continuou o seu caminho como se nada tivesse
ocorrido. Os três jovens ilesos e imundos com muita dificuldade saíram da água.
Não se aguentavam de tanta podridão entranhada nas roupas e no corpo. Gel dizia
“Puta que pariu, olha meu cabelo”, Joab perguntava “Cadê o bagulho, Cláudio?”,
e Cláudio respondia “Não sei onde foi parar, caiu no igarapé”. Saíram os jovens
caminhando pela rua Emílio Moreira, totalmente “caretas” e embasbacados, sem
compreender bem o que tinha acontecido e sem resposta para uma questão. Quem
era aquele sujeito, um anjo ou um demônio?
Desde aquele incidente, Gel, Cláudio e Joab nunca mais
pensaram em fumar maconha ou usar qualquer tipo de droga. E quando reunidos
muito tempo depois com suas famílias, chegaram a seguinte conclusão: Se era um
demônio, levou o “bagulho” com ele para o inferno; se era um anjo, foi uma
lição, para mostrar a podridão das drogas em que iriam se meter. A droga suja o
corpo e a alma. A água suja do igarapé saiu com um bom banho de água limpa e
sabão.
De João Pinheiro Neto