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sábado, 13 de julho de 2013

MEU VICIO AMADO


Vou sair
Vou procurar você
Em cada rosto, em cada sorriso 
Em cada olhar
Sei que não é você
A pessoa que eu beijar
No fundo eu sei
Mas você é meu vicio
E como uma droga
Eu te procuro nas bocas

Sei que não é você
Mas o vicio me faz delirar
É minha psicose, meu martírio
Assim eu te procuro
Rastejo sobre corpos
Misturo meu suor sagrado
Que se torna profano
Por não ser contigo
O amor que se dispensa
Ah, por um momento me satisfaço
Por um momento eu gozo
Mas tudo volta a ser como antes
Volto a precisar de você
Meu vicio amado
Que nunca está aqui
Quando eu mais te quero.


João Pinheiro Neto.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

O ANJO VESTIDO DE PRETO


Estavam os três jovens no meio da ponte de madeira sobre o igarapé poluído entre as palafitas, Gel, Cláudio e Joab. O fedor de água podre parecia vir do inferno. A noite sem luar tornava o lugar com pouca iluminação ainda mais escuro. Conversavam baixinho, já passava das 22 h e eles não queriam acordar ninguém, pois iriam fumar o primeiro “baseado” de suas vidas. Quando Cláudio se preparava para acender o “bagulho”, eis que surge atravessando a ponte uma figura macabra vestida de preto que parecia estar descalço. Cláudio, por via das dúvidas, escondeu o “baseado” na mão para acender depois que a figura passasse. Mas, o inesperado aconteceu. Quando o sujeito de preto chegou ao meio da ponte onde se encontravam os três, ela caiu; e todos foram parar dentro do igarapé de água podre. Incrível! Como um gato a figura de preto subiu pelo que restou da ponte e continuou o seu caminho como se nada tivesse ocorrido. Os três jovens ilesos e imundos com muita dificuldade saíram da água. Não se aguentavam de tanta podridão entranhada nas roupas e no corpo. Gel dizia “Puta que pariu, olha meu cabelo”, Joab perguntava “Cadê o bagulho, Cláudio?”, e Cláudio respondia “Não sei onde foi parar, caiu no igarapé”. Saíram os jovens caminhando pela rua Emílio Moreira, totalmente “caretas” e embasbacados, sem compreender bem o que tinha acontecido e sem resposta para uma questão. Quem era aquele sujeito, um anjo ou um demônio?
Desde aquele incidente, Gel, Cláudio e Joab nunca mais pensaram em fumar maconha ou usar qualquer tipo de droga. E quando reunidos muito tempo depois com suas famílias, chegaram a seguinte conclusão: Se era um demônio, levou o “bagulho” com ele para o inferno; se era um anjo, foi uma lição, para mostrar a podridão das drogas em que iriam se meter. A droga suja o corpo e a alma. A água suja do igarapé saiu com um bom banho de água limpa e sabão.

De João Pinheiro Neto

IR OU NÃO IR, EIS A QUESTÃO


Era final da década de 70, perto das 21 horas, numa sexta-feira, eu com 16 anos estava em casa debruçado sobre os livros e textos escolares porque iria fazer provas de vestibular. Gostava de estudar na sala da minha casa sentado à mesa ouvindo música num velho aparelho produzido aqui mesmo na Zona Franca de Manaus. Como sempre fazia, mamãe passava, me olhava, sorria e ia à cozinha, logo em seguida, voltava com um copo de leite e biscoitos, avisando para eu não ir dormir muito tarde.
Eu tinha acabado de ler um texto e fazer as devidas marcações e anotações quando um carro – uma Brasília vinho – chegou buzinando em frente de casa. Era o meu amigo Carlos Itanajé*, também jovem e tido pelas garotas como um galã. Itanajé, sorrindo, perguntou o que eu estava fazendo. Estou estudando, respondi. E o meu amigo exclamou: - Pô, João, toda vez que eu venho aqui você ta estudando, qual é?! Deixa de ser CDF, seu “nerd”!!! Vamos dar um rolé e pegar umas garotas.
A rua da minha casa, a Visconde de Porto Alegre, no centro da cidade, antigamente tinha mão dupla, hoje só tem mão no sentido de descida em direção a Avenida Sete de Setembro que vem do “centrão”, parte boêmia do centro da cidade, e vai na direção do bairro da Cachoeirinha. Itanajé, ao contrário, estava subindo a Visconde em direção à rua Ramos Ferreira que tem como sentido o “centrão”.
- Meu amigo, gostaria muito de ir nessa “barca”, mas estou estudando desde cedo, já estou quase indo dormir, deixa pra próxima. - Disse-lhe eu.
- Tu és muito leso, meu camarada. Olha que hoje é tudo por minha conta. Vamos nessa, João. - Insistiu, Itanajé.
Não, não fui. Itanajé foi embora “cantando pneu”, e eu voltei para os meus estudos. Três horas da madruga fui dormir.
Acordei por volta das 9 horas, tomei meu café, e saí à rua para encontrar meus camaradas. Foi quando fiquei sabendo da notícia trágica. O meu amigo Carlos Itanajé, por volta das 21:30 da noite, depois que passou em minha casa, capotou com a Brasília na rua Ramos Ferreira, na descida da ladeira conhecida como “buraco do pinto”, e morreu.
Este fato marcou a minha vida de três maneiras: A primeira é a paranóia que fico quando alguém vem buscar os meus filhos para sair. A segunda é a dúvida de que se eu estivesse junto com ele no carro como co-piloto orientando-o, sendo a voz da moderação para que ele não corresse muito, o acidente poderia não ter ocorrido. E, a terceira é de cunho moral: Quando você tem um objetivo, uma meta a ser alcançada, não desvie, em hipótese alguma, do seu caminho. Não seja um(a) “Maria/José vai com as(os) outras(os)”.

*Itanajé, do tupi: Ita, pedra; Najé, mágica. “Pedra Mágica”

De João Pinheiro Neto.




EU SOU O VERBO.


Jesus é verbo, não é substantivo. Você o conhece, já leu sobre Ele, sabe como viveu e o recado que deixou para nós. Então, deixa de só falar falar e falar, e ficar divulgando imagens, além de só lembrar Dele quando tá na pior. Vive como Ele viveu quando esteve entre nós, vive como se Ele não existisse, sem temor, porque Ele é amor, ninguém faz as coisas do coração com medo. 
Jesus conseguiu traduzir os ensinamentos dos que vieram antes Dele sobre a essência humana em poucas palavras: “amai-vos uns aos outros” e “não faça aos outros o que tu não queres que façam contigo”. Sabe por quê? Porque o amigo do homem é o próprio homem. A salvação ou redenção (o bem viver) do homem depende de como nós nos relacionamos: Se nos tratamos bem, a resposta será boa; se nos tratamos mal, a resposta será ruim. Pára de citar Jesus/Deus para justificar os teus atos. O teu exemplo é a melhor citação. Transforma-te em verbo também.  O Céu começa agora... 
Paz do Senhor!

CONFLITO


A minha flor é a rosa...
Meu sonho cerúleo na solidão
Contínuo e perene no coração
Perfil da tristeza profusa

E quando sua bela lembrança
Paira sobre meus olhos insanos
É o gosto emético dos anos
Que fomenta a minha descrença

A minha flor é a rosa...
Catarse dos meus delírios
Profilaxia dos calafrios
E a cerzidura da prosa.

De João Pinheiro Neto
24/11/2012.

UMA CAGADA FEDERAL


Um dia, um gaiato (juro que não foi eu) com uma baita dor de barriga deu uma cagada de respeito ou, como dizia o Penafort, “uma cagada federal” no mictório (do latim mictoriu) de um bar/pizzaria do Nova Cidade e o fedor não ficou preso nas quatro paredes. Foi saindo de mansinho.
Nisso entra o meu amigo Edson Esperança, mais conhecido como “Cabelo de Tapete Velho”, desbocado “no balde” e cheio de vodka, que desavisado vai direto sentar numa mesa próxima ao tal “mic”, onde a catinga estava de lascar. O garçon, atencioso, dirigiu-se ao meu amigo, com toda cortesia: - Já sei, o senhor veio atraído pelo cheiro das nossas pizzas, certo? E o Cabelo de Tapete Velho, espirituoso disse:  - É isso aí... agora me traz uma pizza de merda com molho de bosta. Ah, ia esquecendo... em vez de orégano, tasca titica.

João Pinheiro Neto.

A CALCINHA DE ELIZABETHE


Na sala dos professores juntei meu material didático e fui para a sala de aula. Quando entrei, que coisa! Uma aluna debruçada sobre o parapeito enorme do antigo estabelecimento de ensino – Instituto de Educação do Amazonas -, que dava para a avenida principal do centro de Manaus, a Av. Eduardo Ribeiro, mostrava com sua minissaia propositalmente cortada, fora dos padrões da indumentária escolar, suas partes intimas sem calcinha. No começo não acreditei no que meus olhos viam, por isso cheguei mais perto. Uma aluna que sentava perto falou “É..., professor, é isso mesmo que o senhor ta vendo, ela não usa calcinha”. Percebendo minha presença a aluna deu um pulo e saindo da janela disse “Desculpe, professor. Estava falando com minha irmã lá embaixo”. “Tudo bem, Elizabethe”, era o nome dela, “Mas depois da aula quero falar com você”, disse eu. No final da aula ela veio falar comigo e foi logo dizendo “Professor, realmente eu estou sem calcinha, mas não é por nada não, é que eu toda vez que uso calcinha fico toda cheinha de bolinhas vermelhas, tipo alergia. Eu venho com calcinha pra escola, mas quando eu chego aqui eu tiro”. Pensei por alguns instantes e comentei “Certo, Bhete, mas cuidado”. A morena se despediu com um sorriso e se foi. Fiquei ali na sala sozinho pensando, quando percebi alguma coisa sobre a carteira da Elizabethe. Ao me aproximar da carteira vi que era uma calcinha. Instintivamente levei aquele objeto ao nariz e cheirei, que perfume... que delícia. Até hoje não sai da minha alma.

De João Pinheiro Neto.

SER EU MESMO


Caminhava pelos corredores do Hospital Psiquiátrico Eduardo Ribeiro quando me deparei com um jovem paciente lendo um livro de filosofia, achei aquilo estranho, ele não parecia pertencer àquele ambiente, destoava completamente. Resolvi então indagá-lo: - O que você faz aqui meu camarada? Ele me olhou por cima dos seus pequenos óculos redondos, analisando-me, percebendo que eu não era médico, enfermeiro ou paciente (ainda não), respondeu: - É muito simples. O meu pai vivia me mandando trabalhar, a minha mãe dizia para eu parar de ser vagabundo, o meu professor falava que eu não tinha talento algum, o pastor dizia que só Jesus na minha vida, minha namorada achava que desse jeito não vou ser um cara bem-sucedido, meus amigos do Facebook só curtiam e compartilhavam o politicamente correto - uma farsa - e queriam que eu fizesse o mesmo... Ninguém me olhava como se deve olhar um homem, mas como se olha no espelho. resolvi me internar aqui neste asilo. Pelo menos aqui eu posso ser eu mesmo.

De João Pinheiro Neto.
Baseado num conto de Kahlil Gibran.

VIDA DE PROFESSOR


Uma jovem professora estava sentada na “sala dos professores”, quando uma daquelas “ôras”, “gôgas” do Distrito Escolar se aproximou.
- Oi, amada, eu sou do Distrito e estou fazendo uma pesquisa para melhorar o nosso desempenho na educação. Eu queria saber como você encara a profissão de professor, qual o seu grau de satisfação...
- É um inferno, querida! A gente começa trabalhar às 5 da matina e, para ter um salário melhor, tem que sair de uma escola para outra, engolir rapidamente a comida, aturar alunos que não respeitam o professor, uma secretaria ociosa, pedagogas e gestores sem noção, trabalhando os três turnos, de manhã, de tarde e de noite, isso porque seria loucura trabalhar de madrugada, né?!
A colega do Distrito ficou penalizada:
- Putz! Vida de professor é triste... Nunca pensei que fosse assim... Você trabalha há muito tempo???
- Passei no concurso, vou começar amanhã!!!

De João Pinheiro Neto.

A LIÇÃO


Ajuricaba menino caminhava ao lado do seu mestre Uirapaié, quando este lhe pediu que providenciasse um arco, uma flecha e um pedaço de pano. Ajuricaba trouxe rapidamente o que o mestre pediu. Então, este pegou uma flor e a pendurou pelo talo em uma árvore próxima, caminhou uns trezentos passos e perguntou a Ajuricaba:
- Quantas vezes, meu menino, você já me viu acertar uma flor a tal distância?
- Muitas vezes, querido mestre, e nunca errou! - Disse Ajuricaba.
- Pois agora quero que você me cubra os olhos com este pedaço de pano e me dê o arco e a flecha que hoje vou lhe ensinar outra lição. – Falou-lhe o mestre.
Com os olhos vendados o mestre firmou seus pés na terra, distendeu o arco com toda a sua energia – apontando na direção da flor – e disparou.
A flecha cortou o ar provocando um ruído agudo, mas nem sequer atingiu a árvore, errando o alvo por uma distância constrangedora.
- Acertei? - perguntou Uirapaié, retirando o pano que cobria seus olhos.
- Ah! O senhor errou, e por uma grande margem de erro – respondeu Ajuricaba. – Achei que ia mostrar-me o poder do pensamento e sua capacidade de fazer mágica.
- Eu lhe dei a lição mais importante sobre o poder do pensamento – respondeu o velho pajé. – Quando desejar alguma coisa concentre-se apenas nela: ninguém jamais será capaz de atingir um alvo que não consegue ver.

De João Pinheiro Neto.



A HISTÓRIA DE JOÃO ou O caminho...


A esposa de João vivia elogiando o marido para os amigos, para os próximos, para todos. Foi por intermédio de João que ela conseguiu aprender a amar, foi por causa de João que ela soube amadurecer e ter paz, foi por meio dele que alcançou o por meio dela, foi por ter caminhado com João que ela compreendeu a caminhada e, assim, chegou aonde sempre sonhou – ainda que não soubesse disso antes. De muitas coisas ela não tinha a menor ideia, nenhuma ideia, antes João. João se tornou o caminho, a estrada, a ponte para o que ela atingiria caso se desenvolvesse conforme suas premissas internas. Isso aconteceu.
Então ela chamou seu João e disse a ele que o casamento chegara ao final. Agora ela estava bem, estava Ela, estava em uma condição existencial na qual era agradecida a João, reconhecida a João; muito de novidades, muito de alegrias e sexualidade, amor, agora muito cabia e acenava com cabimento em sua vida. Mas não havia mais lugar para João. Ele tinha sido uma boa estrada, um bom caminho para isso. Mas a estrada é uma trajetória para algo, não o algo. A não ser que a estrada seja o próprio algo. Foi caminhando com João que ela aprendeu e descobriu a amar, e assim amou o amigo de João, com quem agora queria estar, a mulher pós-caminho com João.
Será que João se afastará, agradecido por ter sido caminho para ela? Será que compreenderá e lhe agradecerá por ter partilhado um trecho da vida, por ser uma passagem para ela enfim chegar ao amigo dele?
Será que João sabe que outras pessoas são João para ele como ele foi João para a esposa?