A vida não é um milagre, não é uma coisa sobrenatural, extraordinária. A vida é um processo essencial da matéria universal. Mas, não surge por espontaneidade, como num passe de mágica, nada disso, a vida só se realiza quando existem possibilidades concretas – físicas e químicas – para o seu aparecimento. Um exemplo disso é o nosso planeta Terra, que por bilhões de anos foi reunindo condições – a água, principalmente - para que a vida se processasse. Não digo nem a Terra, mas todo o sistema solar, pois, se não fosse a distância certa do Sol, nossa maior fonte de energia, nosso planeta seria quente ou frio demais, impossibilitando a vida.
Talvez possamos pensar, então, que a vida surge na Terra por acaso? Aí eu me lembro de uma frase de Albert Einstein, “Deus não joga dados com o mundo”, e isso quer dizer que existem leis no Universo, ou seja, “Deus é a lei e o legislador do Universo”. Para o professor, como ele gostava de ser chamado, Deus não é sobrenatural, mas “um Poder Superior que se revela no Universo”, e ainda diz, “aceito o mesmo Deus que Spinoza chama de Alma do Universo. Não aceito um Deus que se preocupe com as nossas necessidades pessoais”. Em suma pode-se entender que Deus se mostra no próprio Universo.
E a vida humana, o que há nela de extraordinária? Vejamos, o gênero humano passou por um processo evolutivo: (1) Há, aproximadamente, 4 milhões de anos vagavam por muitas regiões da África hominídeos (ancestrais da espécie humana) do gênero Australopithecus (andava sobre duas pernas, mas possuía braços longos para subir em árvores). Eles irão se dividir em várias espécies como Australopithecus anamensis, afarensis, africanus e garhi. (2) Por volta de 2,5 milhões de anos o gênero homo já tem representantes no planeta, como as espécies habilis (suas mãos tinham capacidade para manipular objetos com mais precisão) e rudolfensis. Eles se diferenciam do Australopithecus por ter uma caixa craniana maior para o cérebro, além de dentes molares e pré-molares menores. (3) E, por volta de 1,9 milhões de anos surge o Homo erectus (sua caixa craniana já tinha um tamanho mais próximo ao do homem moderno). Bem-sucedida, está espécie ira se manter na Terra por mais de 1,8 milhões de anos, chegando a ser contemporânea do Homo sapiens. Além da África, ocupou também a Ásia e possivelmente a Europa. (4) Perto dos 700 mil anos o Homo heidelbergensis se espalha pelo planeta. Na África, ele pode ter dado origem ao homem moderno; na Europa, a outra espécie: a dos neanderthais (baixo e atarracado, era bem adaptado para viver em regiões muito frias). (5) Há 200 mil anos atrás o homem de Neanderthal entra na corrida evolutiva tendo como adversário o Homo sapiens. Os neanderthais seriam derrotados provavelmente na disputa por alimentos e desaparecem da Terra. (6) Em torno de 50 mil anos o Homo sapiens já existia havia uns 150 mil anos, mas aqui ele passa a criar armas e ferramentas mais sofisticadas – o que pode tê-lo ajudado a superar os neanderthais. Hoje o homem moderno não parou de evoluir – por exemplo, o cérebro humano continua a crescer de geração em geração -, e toda essa atual revolução tecnológica que vivenciamos (tema para outra oportunidade) acabe em alguns milhares de anos, contribuindo para transformações mais aceleradas em nossas características biológicas e antropológicas.
Enfim, mas o que torna a vida humana extraordinária? Apesar de todo esse processo evolucionário representar, por si só, algo fantástico, não é isso que a torna extraordinária. O que torna a vida humana extraordinária é que toda essa evolução levou o homem desenvolver a capacidade racional de entender e construir valores éticos socialmente válidos que ao traduzirem-se em regras/normas/leis impõe limites aos seus instintos animais irracionais. Por isso, entendimentos como “não matar”, “não roubar”, “respeitar a criança, o jovem e os mais velhos”, “obedecer e respeitar o pai e a mãe”, “amar o próximo como a si mesmo”, antes de serem preceitos religiosos, são construções da natureza racional humana – reconhecendo aqui a importância de muitas religiões e crenças em fomentar e preservar conteúdos éticos e sociais. Muitas vezes, foi e é preciso conferir certo grau de autoridade para as leis elaboradas pelos homens, e para isso se coloca como criadas pelos próprios deuses, dando uma conotação divina, para que ninguém a conteste, pelo contrário, siga e a tema – em muitos tribunais do mundo se jura dizer a verdade colocando a mão sobre a Bíblia Sagrada. Como bem se expressou Einstein: “ninguém pode negar o fato de que Jesus existiu, nem que seus ensinamentos sejam belos. Ainda que alguns deles tenham sido proferidos antes, ninguém os expressou tão divinamente”. Significa dizer que o homem em sociedade elabora regras de conduta, de comportamento, para atuar em seu cotidiano, e que todos devem ao ter conhecimento delas de preservá-las, respeitá-las e segui-las para se estabelecer um bem comum. Ma estas mesmas regras sociais, elas não são imutáveis ou eternas, elas acompanham as mudanças historicamente determinadas. O que hoje é válido para muitos, amanhã pode não ser.
E a beleza disso tudo é que nós viemos do pó, tomamos conhecimento de nossa existência, superamos nosso ego, a nossa selvageria irracional – ou pelo menos estamos tentando -, a caminho de uma sociedade mais justa, fraterna e igualitária. É isso que torna a vida humana extraordinária, sabendo que um dia voltaremos ao pó, fazemos de nossa passagem pela vida a interação com a divindade, com a Alma do Universo.
Profº João Pinheiro Neto.
Profº João Pinheiro Neto.