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terça-feira, 30 de agosto de 2011

É SURDO, ENTENDE MAL, É SIMPATIZANTE OU É HOMÓFOBO


Fazia muito calor naquela noite de agosto em Manaus, a cidade de uma região onde há apenas duas estações: a quente-quente e a quente-chuva. A sala de aula estava completa, ninguém tinha faltado, eram cinqüenta e dois alunos mais o professor. E, para completar o quadro, o ar condicionado não estava dando conta de amenizar o calor. A aula também era quente, o tema era a Revolução Francesa; e o professor, empolgado, tentava explicar a crise econômica e social na França do século XVIII.
De repente, não mais do que de repente, eis que aparece na porta da sala uma aluna de outra turma, que por ter sempre a atenção do professor, resolveu interromper-lhe a aula para perguntar se ele sabia onde poderia encontrar uma lixa. Ao que o professor respondeu prontamente, ou melhor, chamou prontamente o aluno Jú que sentava lá no fundo da sala, para que viesse atender alguém que estava lhe procurando. Jú, que não esconde sua opção sexual gay veio daquele jeito que só ele e mais um monte de seus amigos sabem andar: saltitando como uma gazela no cio, jogando a cabeça de um lado para o outro. Quando ele chegou à porta a aluna tomou um susto e retrucou: - não professor! Eu disse lixa. A professora de artes passou uma tarefa de pintar lixa com lápis de cera. O professor com um leve sorriso pediu desculpas aos dois. Ao que Jú falou: - Nada professor, imagina. E voltou para o seu lugar desfilando como se estivesse numa passarela.
Não ficou claro se o professor tinha entendido “onde poderia encontrar uma bicha”. Mas o que confundiu o professor? Será que ele é surdo, entende mal, é simpatizante ou homófobo? Porque se estava querendo, apenas, “zoar” com o Jú, deve haver algo que o motive a tal procedimento. Se o motivo foi o ódio, o preconceito ou a repugnância, talvez ele guarde lá no fundo da sua mente – no inconsciente - esta fobia, e o motivo seria porque não definiu completamente sua identidade sexual, o que gera dúvidas, angústias e certa revolta, que são transferidas para os que têm essa preferência sexual. Por exemplo, ao contrário, quando uma “bicha” ataca as mulheres chamando-as de “rachadas”, “feias”, “burras” ou caluniando-as é porque esconde as suas mágoas, seus recalques por tudo aquilo que a mulher é, ou seja, o que ele gostaria de ser e ter – o sexo feminino. Assim acontece com muitos homófobos que são “bichas encubadas” e por não assumirem conscientemente sua(s) preferência(s) sexual(ais) tentam negar a sua sexualidade atacando os homossexuais. Muitos até chegam a contrair matrimônio com uma mulher e formar uma família, sem jamais assumir seu lado gay.
 No amor existe sexualidade, mas não é uma questão de gênero: o amor pode acontecer entre um homem e uma mulher, entre dois homens, entre duas mulheres; como também pode acontecer entre vários homens e mulheres, ou seja, você pode amar vários indivíduos ao mesmo tempo. 
Então, qual é moral disso tudo? Marx afirmava que os valores da moral vigente – liberdade, felicidade, racionalidade, respeito à subjetividade e à humanidade de cada um, etc. – eram hipócritas não em si mesmos (como julgava Nietzsche), mas porque eram irrealizáveis e impossíveis numa sociedade violenta como a nossa, baseada na exploração do trabalho, na desigualdade social e econômica, na exclusão de uma parte da sociedade dos direitos políticos e culturais. Assim, Marx passa a idéia de que é impossível em uma sociedade como a nossa haver soluções efetivas contrárias aos preconceitos e discriminações enquanto as bases que a sustentam não mudarem.
Enquanto isso... o professor... é viado...



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