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terça-feira, 30 de agosto de 2011

É Nois!



Era apenas um jogo e o time dele ganhou, ao passar perto do seu professor não conteve o orgulho, bateu no peito e lhe disse “é professor, conosco ninguém podemos”. Foi naquele momento que o mestre pensou: são milhares de anos de evolução e o homem desenvolveu formas de comunicação para expressar seus pensamentos, sentimentos e desejos. Mas será que no começo de tudo havia a preocupação com as regras formais da comunicação e expressão? Quem sabe no começo de tudo havia apenas a necessidade de se fazer entender? As regras e normas da comunicação e expressão teriam vindo depois com o desenvolvimento sócio-cultural?
A língua falada é uma das inúmeras formas de comunicação e expressão, mas com certeza no principio, antes da sua invenção, os seres humanos se comunicavam apenas por gestos, grunhidos e caretas na tentativa de se fazer entender. Se o homem tentou se comunicar-expressar isso significa que antes de expor seus sentimentos, desejos e necessidades ele “pensou” nessa possibilidade. É..., o homem “pensou”, mas isso quer dizer que antes de ter a forma do pensamento, a linguagem, ele de alguma maneira em seu cérebro primitivo construiu um pensamento? Por exemplo, um animal ao rosnar (o cão e outros animais), um som surdo indicativo de raiva ou de prenúncio de ataque, de certa forma quer dizer, falar por entre os dentes, que está contrariado. Outros animais gritam...berram, quando estão sentindo dor, ou, pulam...ficam saltitando quando estão “felizes”, o instinto e a gênese do pensamento se misturam. Hoje nas comemorações os seres humanos também pulam, berram, gritam, cantam, escrevem, isto é, inventam diversas maneiras de demonstrar suas alegrias e tristezas.
Para chamar atenção ou não o som é importante e foi importante no início da comunicação. Talvez os seres humanos tenham começado imitando os sons da natureza ou reproduzido oralmente o sons produzidos por eles mesmos. Assim, alguns sons transformaram-se em falas, por exemplo: o barulho de uma pancada pode ter virado um som articulado oralmente como “pá”, “pow”, “thum”; assim como uma explosão pode ter virado “bang”; o trovão, “brum”; a água, chuá; um peido, “pum”; etc. E todos esses sons eram ou são, não necessariamente, acompanhados por gestos.
Vive-se hoje a era da velocidade, onde tudo acontece com rapidez quase que absurda em todos os campos da ação humana. O homem busca a velocidade na hora de se transportar, no trabalho, na comunicação e em tudo mais. Importa aqui destacar a velocidade com que atualmente as pessoas tentam se comunicar, com o mínimo de palavras, sinais gráficos (ou digitais). Ontem quando se queria ir naquele momento falava-se “vamos em boa hora”, o tempo passou e virou “vamos embora”, mas a necessidade de se fazer entender com maior rapidez, economizando tempo e espaço, levou a “vumbora”, “bora”. Na internet beijos virou “bjs”, também virou “tbm”, você é “vc”, valeu é “vlw”, beleza é “blz”, falou é “flw”, adicionar ou adiciona é “adc”, e por aí vai.
“Conosco ninguém podemos”, falta concordância, mas pelo menos ele tentou dizer que do seu time ninguém pode ganhar; outros poderiam apenas dizer “é nois”, “é nois” o quê? O resto da comunicação ficaria por conta da mensagem telepática que, com certeza, é enviada pelas ondas cerebrais. Quem sabe aquele simples olhar, a flexão de cabeça, o gesto de positivo com as mãos, escondam mais significados do que pode sonhar nossa vã filologia. Nós estamos... bati a mão aberta sobre a outra fechada.



         *João Pinheiro Neto é filósofo.

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