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sexta-feira, 18 de novembro de 2011

O QUE TORNA A VIDA HUMANA EXTRAORDINÁRIA

A vida não é um milagre, não é uma coisa sobrenatural, extraordinária. A vida é um processo essencial da matéria universal. Mas, não surge por espontaneidade, como num passe de mágica, nada disso, a vida só se realiza quando existem possibilidades concretas – físicas e químicas – para o seu aparecimento. Um exemplo disso é o nosso planeta Terra, que por bilhões de anos foi reunindo condições – a água, principalmente - para que a vida se processasse. Não digo nem a Terra, mas todo o sistema solar, pois, se não fosse a distância certa do Sol, nossa maior fonte de energia, nosso planeta seria quente ou frio demais, impossibilitando a vida.
Talvez possamos pensar, então, que a vida surge na Terra por acaso? Aí eu me lembro de uma frase de Albert Einstein, “Deus não joga dados com o mundo”, e isso quer dizer que existem leis no Universo, ou seja, “Deus é a lei e o legislador do Universo”. Para o professor, como ele gostava de ser chamado, Deus não é sobrenatural, mas “um Poder Superior que se revela no Universo”, e ainda diz, “aceito o mesmo Deus que Spinoza chama de Alma do Universo. Não aceito um Deus que se preocupe com as nossas necessidades pessoais”. Em suma pode-se entender que Deus se mostra no próprio Universo.
E a vida humana, o que há nela de extraordinária? Vejamos, o gênero humano passou por um processo evolutivo: (1) Há, aproximadamente, 4 milhões de anos vagavam por muitas regiões da África hominídeos (ancestrais da espécie humana) do gênero Australopithecus (andava sobre duas pernas, mas possuía braços longos para subir em árvores). Eles irão se dividir em várias espécies como Australopithecus anamensis, afarensis, africanus e garhi. (2) Por volta de 2,5 milhões de anos o gênero homo já tem representantes no planeta, como as espécies habilis (suas mãos tinham capacidade para manipular objetos com mais precisão) e rudolfensis. Eles se diferenciam do Australopithecus por ter uma caixa craniana maior para o cérebro, além de dentes molares e pré-molares menores. (3) E, por volta de 1,9 milhões de anos surge o Homo erectus (sua caixa craniana já tinha um tamanho mais próximo ao do homem moderno). Bem-sucedida, está espécie ira se manter na Terra por mais de 1,8 milhões de anos, chegando a ser contemporânea do Homo sapiens. Além da África, ocupou também a Ásia e possivelmente a Europa. (4) Perto dos 700 mil anos o Homo heidelbergensis se espalha pelo planeta. Na África, ele pode ter dado origem ao homem moderno; na Europa, a outra espécie: a dos neanderthais (baixo e atarracado, era bem adaptado para viver em regiões muito frias). (5) Há 200 mil anos atrás o homem de Neanderthal entra na corrida evolutiva tendo como adversário o Homo sapiens. Os neanderthais seriam derrotados provavelmente na disputa por alimentos e desaparecem da Terra. (6) Em torno de 50 mil anos o Homo sapiens já existia havia uns 150 mil anos, mas aqui ele passa a criar armas e ferramentas mais sofisticadas – o que pode tê-lo ajudado a superar os neanderthais. Hoje o homem moderno não parou de evoluir – por exemplo, o cérebro humano continua a crescer de geração em geração -, e toda essa atual revolução tecnológica que vivenciamos (tema para outra oportunidade) acabe em alguns milhares de anos, contribuindo para transformações mais aceleradas em nossas características biológicas e antropológicas.
Enfim, mas o que torna a vida humana extraordinária? Apesar de todo esse processo evolucionário representar, por si só, algo fantástico, não é isso que a torna extraordinária. O que torna a vida humana extraordinária é que toda essa evolução levou o homem desenvolver a capacidade racional de entender e construir valores éticos socialmente válidos que ao traduzirem-se em regras/normas/leis impõe limites aos seus instintos animais irracionais. Por isso, entendimentos como “não matar”, “não roubar”, “respeitar a criança, o jovem e os mais velhos”, “obedecer e respeitar o pai e a mãe”, “amar o próximo como a si mesmo”, antes de serem preceitos religiosos, são construções da natureza racional humana – reconhecendo aqui a importância de muitas religiões e crenças em fomentar e preservar conteúdos éticos e sociais. Muitas vezes, foi e é preciso conferir certo grau de autoridade para as leis elaboradas pelos homens, e para isso se coloca como criadas pelos próprios deuses, dando uma conotação divina, para que ninguém a conteste, pelo contrário, siga e a tema – em muitos tribunais do mundo se jura dizer a verdade colocando a mão sobre a Bíblia Sagrada. Como bem se expressou Einstein: “ninguém pode negar o fato de que Jesus existiu, nem que seus ensinamentos sejam belos. Ainda que alguns deles tenham sido proferidos antes, ninguém os expressou tão divinamente”. Significa dizer que o homem em sociedade elabora regras de conduta, de comportamento, para atuar em seu cotidiano, e que todos devem ao ter conhecimento delas de preservá-las, respeitá-las e segui-las para se estabelecer um bem comum. Ma estas mesmas regras sociais, elas não são imutáveis ou eternas, elas acompanham as mudanças historicamente determinadas. O que hoje é válido para muitos, amanhã pode não ser.
E a beleza disso tudo é que nós viemos do pó, tomamos conhecimento de nossa existência, superamos nosso ego, a nossa selvageria irracional – ou pelo menos estamos tentando -, a caminho de uma sociedade mais justa, fraterna e igualitária. É isso que torna a vida humana extraordinária, sabendo que um dia voltaremos ao pó, fazemos de nossa passagem pela vida a interação com a divindade, com a Alma do Universo.

Profº João Pinheiro Neto.                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                          

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

INVASÃO DA REITORIA DA USP: O FIM DAS IDEOLOGIAS?

Em maio de 1968 estudantes franceses se rebelavam contra a ordem escolar daquele país, fato que permanece no imaginário social justamente por ter se convertido em símbolo de uma utopia. Queriam o impossível? Um poder jovem, uma sociedade sem autoridade, um mundo sem classes, justo e igualitário.
Outra data igualmente marcante foi quando em dezembro de 1989, na Alemanha, milhares de pessoas, muitos deles jovens estudantes, iniciaram a derrubada do Muro de Berlim colocando em xeque os regimes “comunistas” na URSS e no Leste Europeu, cujos países foram, nos anos seguintes, integrando-se ao mercado global. Para muitos a prova definitiva de que o modo de vida capitalista é universal, as disparidades sociais são naturais, as hierarquias são necessárias, as diferenças não são bem-vindas e o poder é legítimo porque é o poder estabelecido. Até um eufórico cientista político norte-americano – Francis Fukuyama – chegou a afirmar que estávamos diante do fim da História. Que não haveria, a partir daquele momento, alternativa à democracia neoliberal. Ela seria a última forma de governo humano.
Estes dois momentos acima citados refletem cada um no seu contexto, as transformações pelo qual passava o mundo: O primeiro, a luta daqueles que viam o sistema capitalista como decadente injusto e desumano, propondo como saída uma sociedade “anarquista” ou “socialista”. O segundo, aqueles que perceberam que o mundo d’antes sonhado se mostrou na realidade tão decadente injusto e desumano quanto o outro. Mas, também Fukuyama não está correto, pois o capitalismo - e o neoliberalismo - continua gerando mazelas que nos obriga sempre a buscarmos alternativas para este modo de vida.
Agora, outra data merece destaque aqui. Na semana passada, terça-feira dia 1º de novembro, um grupo de estudantes invadiu o prédio da Reitoria da Universidade de São Paulo (USP), inicialmente como uma reação à presença da polícia no Campus Universitário. Antes da invasão do prédio da reitoria, cerca de mil estudantes organizaram uma assembléia regada a maconha e cerveja para dar seqüência aos protestos que pedem a retirada dos policiais do perímetro do campus. Enquanto alunos esgoelavam frases como "Fora PM! Abaixo a repressão!" num microfone conectado a caixas de som, outros se sentavam no chão, bebiam e fumavam. Às 19h30 daquele dia, num gramado bem perto do lugar reservado aos oradores, e também nos mezaninos do prédio, dezenas de alunos esfarelavam maconha nas mãos, enrolavam cigarros e tragavam à vontade. A polícia não apareceu no local.
Apesar de o ministro Fernando Haddad afirmar que “a USP não pode ser tratada como se fosse a ‘cracolândia’” – região do Centro de São Paulo conhecida pela presença de usuários de crack -, era em que estava se transformando o campus. Não é só em torno do campus que se encontra a violência, o tráfico e o dependente químico. Dentro da própria universidade, como bem retratou o filme “Tropa de Elite”, existe o tráfico.
Resta saber o que motiva os líderes do grupo de estudantes, que hoje dia 9 de novembro foram presos e expulsos do prédio da Reitoria, a não aceitar a presença da polícia, que foi chamada para dar resposta aos assaltos e outros crimes que estavam acontecendo na Universidade.
Se o protesto estudantil estivesse acontecendo em outros tempos, como na ditadura militar pós 64, tudo se justificaria: os estudantes se organizavam em luta contra o autoritarismo antidemocrático de um governo militar. Mas o que observamos hoje é um grupo se utilizando de “velhas” palavras de ordem para justificar suas escolhas individuais. Os estudantes, assim como toda a sociedade, precisam ficar atentos aos novos mecanismos ideológicos de manipulação das massas.
Professor João Pinheiro Neto, o filho de dona Etelvina.