Eu e Adenilton Pinto tínhamos tomado todas sexta à noite num
boteco no Beco do Macêdo e estávamos já voltando para a Casa do Estudante, ali pela
rua por trás do cemitério São João Batista, quando ouvimos duas vozes vindas lá
de dentro do outro lado do muro alto, tipo assim “Uma é minha, uma é tua... Uma
é minha, outra é tua...”. Então eu disse “Porra, Pinto, é o fim do mundo, só
pode ser Deus e o Diabo dividindo as almas dos mortos”. Quando de repente uma voz falou “Beleza,
quando acabarmos aqui vamos pegar aquelas duas que estão lá fora”. O Adenilton
Pinto olhou pra mim aterrorizado gritando “Cooooorreeeeeeee...
camaradaaaaaaa...”. Uma semana depois,
nós passando a tarde pelo cemitério resolvemos conferir o caso perguntando para
os coveiros de plantão se eles já tinham presenciado fato relativo, qual foi a
nossa surpresa quando responderam gargalhando que “geralmente nós, antes de
irmos embora pra casa, subimos nas mangueiras para apanhar mangas rosa, e de
vez em quando cai uma ou duas mangas para o outro lado do muro”.
De João Pinheiro Neto, o filho de dona Etelvina.