Já quase no final da Ditadura Militar no início dos anos
1980 descíamos a rua Ramos Ferreira quando terminava as aulas do curso de
Filosofia no antigo ICHL situado na rua Emílio Moreira e caminhávamos em
direção ao Bar Nossa Senhora da Conceição, que ficou conhecido depois como Bar
do Armando, na rua 10 de Julho, Centro da cidade de Manaus, para tomar aquela
cerveja gelada servida pelo português Armando. O bar, muito diferente do que é
hoje, era freqüentado por poucas pessoas, como estudantes da Faculdade de
Educação – FACED que ficava ali perto, professores, intelectuais, e outros.
Entre os freqüentadores encontrávamos um sujeito que adorava
contar boatos sobre a “ditadura e os milicos”. E entre os ouvintes cotidianos
estava um coronel que nunca se preocupou em se apresentar ou demonstrar que era
coronel de fato. Mas com o passar do tempo os boatos começaram a incomodar o
coronel, que resolveu fazer uma “pegadinha” com o nosso contador de boatos.
Convocou seu pequeno destacamento militar, todos fardados, inclusive ele mesmo
com sua farda de coronel; e, em seus “jeeps” rumaram para o Bar do Armando.
Quando o coronel chegou ao Bar com a operação de araque se
dirigiu ao boateiro e disse: - O senhor está preso e será julgado por um júri militar,
caso condenado será executado por um pelotão de fuzilamento.
Assim levaram o dito cujo, simularam um júri e a condenação
por fuzilamento. Colocaram-no ao paredão e o coronel gritou: - Pelotão,
atenção, preparar, apontar, fogo! As balas eram de festim, mas deram um susto danado
no homem.
- Isso é pra você não sair por aí falando mal das Forças
Armadas, entendeu? Fora daqui, seu pinguço da peste. - Disse o coronel dando um
empurrão no camarada.
No outro dia, lá estava nosso amigo do mesmo jeito bebendo e
proseando com os companheiros. Um deles pergunta: - Então, Toscano! Como foi lá
no quartel?
O nosso boateiro chama todos para perto de si e cochicha
mais uma: - Camaradas, o que estão falando por aí é verdade, a ditadura ta chegando
ao fim. Acreditem, eles não têm nem balas!!!